quarta-feira, 27 de maio de 2009

Trabalhadores precisam de aperfeiçoamento contínuo!

ÉPOCA - BRASIL 2020 - SÃO PAULO - 25/05/09 - Nº 575 - Pg. 100 e 101

Numa economia mais rápida e inovadora, os trabalhadores vão precisar de aperfeiçoamento contínuo. Os mais bem-sucedidos serão os que combinam várias especialidades.

Você já ouviu falar de um gerente de ecorrelações?
É o sujeito encarregado de desenvolver programas ambientais da empresa em parceria com ONGs, governos e comunidades locais. O cargo praticamente não existe hoje. Mas deverá ser comum em 2020, dada a preocupação com o meio ambiente, segundo um estudo do Programa Profuturo, da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo. O estudo aponta várias profissões que mal existem agora e deverão estar em voga em 2020 (leia sobre dez delas no quadro abaixo). As previsões se baseiam em algumas mudanças na economia e na sociedade brasileiras: uma população mais velha (que demanda serviços específicos), a evolução da tecnologia e das comunicações, a necessidade do aperfeiçoamento contínuo de profissionais, o imperativo da inovação num mundo mais competitivo. Essas mesmas pressões vão afetar as carreiras tradicionais - talvez até o modo como encaramos a profissão. Eis as principais tendências.

Mais vida, mais trabalho

Com a queda nas taxas de natalidade, haverá menos jovens para ingressar no mercado de trabalho. Por isso, as empresas vão precisar das pessoas por mais tempo - pelo simples fato de que não terão como substituí-las. E as pessoas também vão precisar das empresas. Com o aumento da longevidade, a conta da aposentadoria fica mais complicada: teremos mais anos pela frente, e a maioria de nós terá de trabalhar até mais tarde, para poupar mais. Isso não quer dizer que os mais velhos ficarão em cargos de comando eternamente. Num mundo governado pelas inovações, a pressão pela mudança na chefia é muito forte. Pode se fortalecer a tendência de os profissionais desenvolverem, a partir da meia-idade, a segunda ou a terceira carreira.

O profissional transversal

Há muito tempo, um profissional estudava durante quatro ou cinco anos e aquele conhecimento lhe bastava pelos 35 anos seguintes. Esse tempo acabou, e a pressão pela atualização - ou revolução completa - dos conhecimentos só tende a aumentar. No futuro, as carreiras mais promissoras não serão formatadas apenas num curso superior específico. "Serão profissões transversais, que cruzam diversos campos do saber", diz James Wright, diretor do Profuturo. Elas vão exigir, além da formação acadêmica tradicional, um esforço extra para entender de outras áreas. "Só com educação continuada o profissional vai se manter no mercado", diz a pesquisadora Renata Spers, também do Profuturo. "Além de altamente especializados, os trabalhadores de 2020 terão de ser generalistas."

Horas extras, muitas horas extras...

A receita não é nova. Para subir na carreira, o profissional terá de trabalhar cada vez mais duro - incluindo horas extras e cursos noturnos. Numa economia que cresce mais que a força de trabalho, é necessário aumentar a eficiência. E aumentar a eficiência significa, em geral, trabalhar mais. O avanço tecnológico é uma faca de dois gumes: ele aumenta a produtividade, mas também aumenta a possibilidade de estar conectados com o trabalho o tempo todo.

...com qualidade de vida

Daqui a uma década, a geração nascida entre 1980 e 1990 chegará aos cargos de chefia. É uma geração que preza a qualidade de vida e o desenvolvimento pessoal. O que significará essa troca de bastão? É possível que as empresas se tornem menos hierarquizadas - bem de acordo com uma economia mais avançada, em que decisões precisam ser tomadas não apenas no centro do poder, mas em cada ponta - e que isso traga oportunidades de crescimento sem ascensão profissional. Em outras palavras, é provável que muita gente desista da carreira tradicional e opte por atividades menos exigentes, remuneradas mais modestamente. O trabalho remoto - facilitado pela tecnologia - pode evoluir, mas não muito. "O trabalho remoto serve para algumas profissões, mas a maioria das pessoas precisa da interação com os colegas para ter novas ideias e coordenar os esforços", diz Wright, do Profuturo.

Terceirizados, com projetos

A nova geração é mais propensa a trabalhar com projetos, pulando de uma empresa para outra com ainda mais versatilidade que a geração atual. Grandes empresas já sentem os efeitos dessa mudança de comportamento em seus estagiários e trainees. Elas desenvolvem programas atraentes com planejamento de vários anos de carreira, e vários deles dizem que não querem ficar muito tempo numa empresa só, pois aprenderiam menos. O que se configura para o futuro são empresas com executivos extremamente valorizados e equipes variáveis, muitas vezes terceirizadas. Essa mobilidade dribla uma dificuldade atroz no mercado brasileiro: a rigidez da legislação trabalhista. Ao abrir mão da carteira assinada - que traz altos custos para o empregador -, o profissional receberá mais dinheiro por seu trabalho. Esses prestadores de serviço devem seguir uma tendência percebida no setor agrícola: a formação de cooperativas. "Dessa forma, o terceirizado deixa de ser mão de obra e se torna empresário", diz Luiz Carlos Barboza, diretor técnico do Sebrae. O setor de serviços é um dos mais promissores para 2020. Outro aspecto apontado por Barboza é a implementação da Lei do Microeemprendedor Individual, que começará a vigorar em julho. Ela vai facilitar o crédito e simplificar os impostos. Segundo o Ministério do Trabalho, 10,3 milhões de pessoas sairão da informalidade, criarão negócios e gerarão empregos.

O avanço feminino

No Brasil, elas ingressaram em massa no mercado de trabalho na década de 1980. Mas até hoje não ascenderam em grande número aos postos mais graduados das empresas. Há vários motivos para essa disparidade, desde um suposto machismo no mundo do trabalho até as escolhas pessoais de um grande número de mulheres que prefere a vida doméstica ou um trabalho menos estressante. Certamente não é falta de competência, como mostra um estudo da consultoria americana Catalyst, especializada em pesquisa sobre mulheres no trabalho. A pesquisa constatou que as grandes empresas americanas com muitas mulheres em cargos de comando pagaram a seus acionistas dividendos maiores que as demais. Não será um bom motivo para contratar mais mulheres?

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